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segunda-feira, 12 de julho de 2010

Um oi, um tchau e alguns esclarecimentos

Colegas,

Como sabem, fui demitido do Ielusc no dia 7 de julho. Face à crise do curso de Comunicação Social e à minha aprovação no doutorado, foi uma dispensa providencial e bastante vantajosa para mim, já que desde o ano passado eu havia decidido dar prioridade aos estudos em 2010. Minhas aulas no Programa de Pós-graduação em Artes Visuais da UFRGS começam em agosto, minha distância do Ielusc será cada vez maior e, por isso, esse é o momento de fazer minhas despedidas formais e aproveitar a ocasião para comentar algumas informações que passaram a circular desde a minha demissão.

Não é com absoluta tranquilidade e senso de dever cumprido que me despeço do Ielusc. Ao longo dos seis anos que trabalhei ali, tive o privilégio de conviver, discutir e construir na companhia de pessoas que me serviram de referência e de contraponto, colegas e amigos que me ensinaram a ter orgulho da profissão que escolhi e que me deram exemplos muito fortes de integridade, caráter, dignidade, erudição e competência. Pouco a pouco esse grupo de pessoas foi se diluindo, mas deixava como legado um curso de Comunicação Social bem fundamentado, denso e sério, focado em valores humanistas e numa perspectiva de formação crítica do cidadão, herança que eu e um pequeno grupo de professores ainda remanescentes consideramos ser mais uma responsabilidade que nos cabe assumir do que um tesouro do qual nos beneficiamos. É em respeito a esse projeto político e pedagógico que julgo exemplar, em consideração aos estudantes que serão prejudicados com a iminente queda na qualidade do ensino e em solidariedade aos bons colegas que resistem ao desmonte do curso que me retiro com a sensação de que meu trabalho ainda não está completo, de que o meu ciclo ielusquiano se encerrou prematuramente. Estava, sim, bastante entusiasmado com a possibilidade de restringir minha atuação a disciplinas da área da arte e da cultura (Estética & Arte e a optativa de Jornalismo Cultural que seria oferecida) e ciente do meu papel como representante da resistência docente à depreciação do curso a partir de justificativas financeiras. A sensação de que ainda há trabalho a ser feito se atenua com a demissão que me convém, mas não é de todo eliminada especialmente em função da gratidão que devo aos meus colegas, aos meus alunos e aos anos de ação e aprendizado que tive no convívio com eles.

Agradeço, portanto, a todos os bons colegas que integraram e ainda integram o corpo de professores e funcionários do curso comprometidos com a qualidade e o respeito à formação superior, gente feita de fibra rara e espírito desprendido, que se reconhece pelo olhar e que se respeita mesmo quando diverge. Agradeço aos incontáveis bons alunos que tive o prazer de ter à minha frente e que me ensinaram a gostar do que faço e a fazê-lo com cada vez mais dedicação. Agradeço, sobretudo, a todas as oportunidades que criamos para trabalhar juntos, debater, discordar e nos confrontarmos, conscientes de que era essa a receita para o nosso crescimento, nossa superação e nossa emancipação. Vou sentir muita falta de tudo isso e já sinto saudades de vocês todos que estão recebendo esse e-mail.

Antes de me despedir, faço questão de deixar bem claras minha versão sobre os últimos acontecimentos e minha visão sobre tudo o que está acontecendo nesse universo que se apequena - mas que ainda nos é comum. Desde a minha demissão muita coisa vem sendo dita, escrita e divulgada com base em suposições, deduções e inferências, ambiente de boataria que se constrói sem consulta direta aos envolvidos e que se beneficia do poder genérico das palavras para criar um clima de conveniência. Muito se falou sobre a minha demissão, mas foram poucas as pessoas que se mostraram dispostas a ouvir o demitido e ouvir quem o demitiu - erro grave para uma comunidade que se propõe a formar e a formar-se jornalista.

Em primeiro lugar, as circunstâncias formais da minha dispensa: fui demitido do Ielusc sem justa causa, por decisão unilateral do patrão, na tarde de 7 de julho de 2010. Assinei nesse mesmo dia - em frente ao Sílvio Melatti e ao pastor Leandro Otto - o aviso prévio do empregador para dispensa do empregado redigido e assinado de antemão pelo sr. Waldemar Lorentz, dos recursos humanos, e com ele deixei minha carteira de trabalho. Faremos a homologação da rescisão de contrato na sede do sindicato no dia 27 de julho, às 14h30, e é isso que existe formal e objetivamente sobre a minha demissão. Qualquer um que já tenha sido demitido e conhece um pouco os direitos e deveres do trabalhador nessa hora sabe que essa é uma demissão decidida pelo empregador, que se responsabiliza em garantir ao empregado todos os direitos trabalhistas correspondentes, como aconteceu nas recentes demissões das professoras Lígia Zuculoto, Sônia Santos, Lara Lima, Lilian Muneiro e Roberta Meyer. Não houve, decididamente, o sugerido "acordo entre as partes" - a não ser que vocês chamem de "acordo" uma parte envolvida na demissão entrar com o pé e a outra com a bunda - e também não "pedi para ser demitido", como informa a manifestação imprecisa do professor Melatti ao inaugurar seu twitter. Tivesse eu pedido para ser demitido, essa seria uma dispensa voluntária e não uma demissão sem justa causa. Nem coordenação nem direção têm qualquer documento que sequer sugira um pedido de demissão da minha parte mas, pelo contrário, poderiam fornecer todos os outros papéis que registram, jurídica e oficialmente, a opção arbitrária do Ielusc em me demitir.

É certo, repito, que essa é uma situação bastante vantajosa para mim e que fiz questão de deixá-la clara ao coordenador Sílvio Melatti quando, no dia 6 de julho, decidimos que eu lecionaria Estética & Arte e Jornalismo Cultural nesse semestre, completando 10 horas de trabalho semanais com duas orientações de monografia em Jornalismo. Disse ao Melatti, nesse dia, que uma demissão seria boa para mim, pois poderia me dedicar exclusivamente às minhas prioridades de doutorado e esperar uma eventual bolsa de estudos com a tranquilidade assegurada pelas verbas rescisórias. Nesse mesmo dia, fui chamado à conversa pelo pastor Leandro Otto para falarmos sobre a minha decisão de não orientar mais monografias de Publicidade e Propaganda em função da demissão da Sônia, da dispensa e do corte de horas dos meus colegas e da minha insegurança e desânimo com relação aos rumos que a direção estava dando ao curso. Mesmo me declarando entusiasmado com as disciplinas, os alunos e os colegas de Jornalismo, eu e o pastor fomos bastante claros sobre a nossa falta de confiança mútua e, em razão disso, ele afirmara que "ficava muito difícil" manter-me no quadro de professores e que "discutiria com meus coordenadores e com a direção a viabilidade da minha permanência no curso". Dispensou-me e, em seguida, conversou com Melatti e Scalco. Ao fim dessa reunião, Mellati falou comigo, acenou-me com a proposta de lecionar apenas Jornalismo Cultural e completar minhas 10 horas com seis orientações de monografia - opção que eu recusei por julgar mais conveniente continuar com mais uma disciplina em sala (Estética & Arte) e duas orientações em Jornalismo. Reafirmei que o melhor para mim ainda seria ser demitido, embora soubesse que isso não seria o melhor para o curso e que minha dispensa poderia incentivar ainda mais críticas à maneira com que o Ielusc vem lidando com a crise no curso de Comunicação Social. Melatti disse que levaria minha posição ao pastor Leandro Otto e que me informaria a respeito de qualquer decisão, coisa que fez dentro de uma ou duas horas depois, por telefone: a direção, disse ele, havia escolhido manter-me no curso com 10 horas semanais (duas disciplinas e duas orientações) e informado que se eu quisesse sair da faculdade, que pedisse demissão.

Não pedi demissão. A ideia de alternar a terça e a quarta-feira de estudos em Porto Alegre com a sexta-feira e o sábado de aulas em Joinville - lecionando a disciplina de Jornalismo Cultural que eu vinha polindo ao longo do semestre - me agradava bastante e era com ela que tanto eu quanto Melatti lidávamos até o meio-dia da quarta-feira, dia 7, quando recebi dele um telefonema avisando que o pastor Leandro Otto queria reunir-se conosco às 14 horas. Até o momento dessa reunião, nem eu e nem o Melatti sabíamos que eu seria demitido: o próprio Melatti defendeu minha permanência no curso durante as conversas com a direção no dia anterior e pactuara, com ela, minha permanência, minhas atribuições e minha carga de trabalho para o próximo semestre. Em breves minutos, o pastor disse que havia conversado com o diretor Tito Livio naquela manhã e que decidiram "encerrar o contrato de trabalho" comigo em virtude da conversa que tínhamos tido na terça-feira, dos planos da direção para o curso de Comunicação Social e - vejam só - de uma alegada liberdade que me estaria sendo concedida para decidir se "ficaria lá ou aqui". Sacou da gaveta três vias do aviso prévio do empregador para dispensa do empregado, pediu que eu as assinasse e me encaminhou ao sr. Lorentz, qua sabia desde cedo da minha demissão e já havia, inclusive, conferido meu saldo de FGTS e calculado por alto as minhas verbas rescisórias. Quem deu a notícia da minha demissão em tons bastante elogiosos deve ter sido o Felipe, com quem eu havia conversado antes e logo depois da tal reunião de quarta.

Em segundo lugar, me sinto no dever de comentar a crise que ronda o Ielusc, o ambiente que tal crise fomenta e as relações dela com a minha demissão. Mesmo que o melhor dos cenários para mim passasse por uma demissão - e pelas consequentes indenizações monetárias - do Ielusc, seria muita ingenuidade ou má intenção de quem quer que fosse desvincular minha dispensa do quadro de crise, considerando-a não um sintoma das posturas gerais da direção mas, quem sabe, um favor, uma caridade ou um "acordo entre as partes" que me beneficiaria. Pelo contrário: a decisão de me demitir coube unicamente ao Ielusc, não houve acordo nenhum e não é do feitio da instituição fazer caridade ou beneficiar professores nas rescisões de contrato. Mais do que conveniente para mim, a demissão é conveniente para a direção do Ielusc, que se livra antecipadamente de um professor que, num futuro próximo, seria fonte de problemas e objeções. O Ielusc não costuma dispensar com indenizações polpudas os professores que saem para fazer seus doutorados ou para trabalhar em instituições mais sólidas. Meu doutorado e minha vontade de fazê-lo, nesse caso, surgem como argumentos convenientes para justificar mais uma demissão de professor com bom tempo de casa, bom salário e perfil de contestação - justamente no momento em que a direção divulgava que a onda de demissões finalmente se encerrara. Apesar do meu apreço pelo Melatti, creio que seus pronunciamentos na rede sugerem que minha demissão se deu exclusivamente porque eu a desejava e que, por isso, não tem absolutamente nada a ver com as outras demissões, com os cortes de salário e benefícios e com as ações arbitrárias que vêm sendo exercidas sobre o curso de Comunicação Social pela direção do Ielusc. Não o condeno por dizer o que diz e até me solidarizo com ele nos seus esforços de resguardar a qualidade do curso, mas vejo antes nessa postura muito mais a preocupação do coordenador que precisa sustentar publicamente a posição e os valores da direção do que propriamente a fala daquele colega de profissão comprometido com o curso, lúcido ao situar-se no contexto de problemas que atravessamos ou consciente de todas as etapas de discussão e enfrentamentos que cumprimos até "encerrar meu contrato de trabalho".

É gritante o fato de que minha demissão se encaixa perfeitamente no momento e nas características das dispensas daqueles professores que geram mais despesa à instituição com mais tempo de casa, com maiores salários e com acúmulo de benefícios como triênios e horas de trabalho em projetos de pesquisa e extensão - no meu caso, a Revi. É de conhecimento de todos que sou daqueles professores que não engoliram o discurso da crise e que se manifesta abertamente contrário à divisão dos prejuízos e das responsabilidades decorrentes dela com o corpo docente e discente do curso de Comunicação Social. É fácil imaginar que se não fosse esse clima de insegurança, desestímulo, arbitrariedade e falta de transparância abater-se sobre os professores e alunos, minha disposição e meu comprometimento para o traballho seriam outros. É lógico deduzir, por fim, que se essa prática do corte sistemático de cabeças não estivesse em vigor, a suposta decisão de dispensar-me apenas porque era esse meu desejo não seria tomada. A demissão, enfim, vem em meu benefício e atende meu desejo, mas não é fruto de "acordo entre as partes" e foi decidida integralmente pela direção do Ielusc, a quem muito convém nesse momento. Ela se encaixa perfeitamente no plano de sucateamento e pauperização do curso de Comunicação Social, na lógica de que é preciso salvar antes os lucros do negócio do que a qualidade da instituição e no espírito de "Ielusc: ame-o ou deixe-o" que vem sendo alimentado desde a frustrante reunião dos professores com o pastor Leandro Otto no dia 28 de junho.

Dito isso, coloco-me agora à margem do processo que se desdobra dentro do Ielusc e que deve envolver, em clima de colaboração, professores e alunos que não aceitam e nem devem aceitar que os prejuízos das presepadas administrativas e financeiras sejam descontados nas áreas didática e pedagógica do curso de Comunicação Social. Essa margem vem sendo engrossada por ex-alunos, ex-professores e outros membros da comunidade que lamentam os rumos funestos e irreversíveis que estão sendo esboçados pela direção do Ielusc. São pessoas cuja trajetória de trabalho e cooperação democráticas ajudaram a construir a reputação desse curso e que, nesse momento, se solidarizam em contrariedade à sua nítida decadência. As falas produzidas fora da instituição só aumentam, mas até agora ninguém da diretoria do Ielusc se pronunciou publicamente para esclarecer razões, decisões e repercussões de um debate que já tarda.

Publiquem ou despachem essa carta da forma como julgarem correta. Meu e-mail e meus contatos ficam à disposição, como de costume. Um "tchau", por enquanto, é o suficiente: ainda nos veremos e nos falaremos mais.

Um abraço a todos,

Gleber Pieniz

7 comentários:

Dudu Murara disse...

Hmmmm... o IELUSC deixou coisa mal explicada no ar hein... Gléber fará falta =/

12 de julho de 2010 às 06:21
Bia disse...

A demissão do Gléber foi a nítida imagem de que o curso de Jornal está indo pelos ares.
Sinto muito por isso, um profissional como ele deixar a instituição é abrir o espaço do desespero.

12 de julho de 2010 às 10:50
Marcio Rocha disse...

Nem Lutero salva o curso de jornalismo.

12 de julho de 2010 às 10:52
tabatabatata disse...

Alguém me explica como a Juliana Bonfante ainda se mantem no IELUSC? oO #fail

12 de julho de 2010 às 10:55
Um louco, cego, surdo e mudo. disse...

E qual seria a preocupação da diretoria neste momento? As matrículas, claro.

Até em carta de "auto boas vindas" tem coordenador falando das matrículas, ao invés de perguntar o que os alunos estão achando do curso...

Este é o "canal de comunicação" do qual a instituição se vangloria.

Neste momento, meu sentimento é simplesmente de pena.

12 de julho de 2010 às 11:29
Um louco, cego, surdo e mudo. disse...

http://blogdodacs.blogspot.com/2010/07/uma-visao-de-fora-sobre-crise.html

só para lembrar de algumas postagens recentes em outros textos do blog.

12 de julho de 2010 às 11:58
Anônimo disse...

É com muita tristeza que vejo esse desmembramento do Bom Jesus/Ielusc.

Não só o curso de jornalismo como o de publicidade vêm sendo prejudicados com toda essa falta de cumplicidade.

Resta a nós alunos, lugar por uma difícil causa. Demagogia? Uma instituição que forma comunicadores, não se comunica nem com os seus dicentes.

12 de julho de 2010 às 16:31

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